Article Title: Ensaio sobre A Tradução como instrumento de elevação dos índices de Educação | Date Created: 01/21/2014 | Date Updated: 01/21/2014 | Language: Portuguese | Category: Education | TranslatorPub.Com Rank: 16 | Views: 3362 | Comments: 0 | Ratings: 1, Average Rating: 10 (10 Max)
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O domínio de uma segunda língua representa um avanço pessoal qualitativo e a expansão de possibilidades geradoras de experiências humanas intensas e culturalmente significativas. Apreender o mundo sob diferente ótica, tendo como base a estrutura linguística de outro idioma, alarga fronteiras intelectuais e proporciona o intercâmbio de diferentes perspectivas a respeito dos fenômenos da realidade. A educação que almeja a construção de um cidadão livre capaz de habitar o mundo deve zelar pela aquisição de uma língua estrangeira (LE).
É, contundo, com alguma perplexidade que a educação brasileira enfrenta o desafio de ensinar outro idioma. Se uma parte do problema está contida no fato de que, culturalmente, o brasileiro não possui o hábito de aprender outros idiomas, haja vista sua grande autonomia linguística, podendo transitar em mais de 5 mil quilômetros quadrados sem necessitar da utilização de outra língua; por outro lado, e como consequência da mesma característica mencionada anteriormente, o professor brasileiro que ensina língua estrangeira moderna, salvo exceções, se sente pouco seguro em transmitir um conhecimento que lhe parece distante. A língua está em transformação todos os dias e pode ser acessada nos diversos produtos da indústria de entretenimento, vestuário e gastronomia, transformando a disciplina ensinada em um poço movediço e arredio, repleto de ciladas e situações de embaraço para o professor.
Assim, se aprender outro idioma representa um esforço remoto e ineficaz para o aluno, também para o professor, ensinar por meio de aulas desafiadoras e mais situacionais pode gerar experiências traumáticas e desagradáveis. Dessa forma, distanciam-se alunos e professores de uma verdadeira aproximação da língua, vivendo modelos artificiais de ensino, tentando evitar que estruturas diferentes façam parte do ambiente de ensino da aula prevista. Ora, professores inseguros; alunos inseguros.
O primeiro passo para reverter esse quadro é aumentar a confiança do professor. Só um docente que domine plenamente seu conteúdo pode abordar adequadamente métodos pedagógicos relevantes para o ensino de seu saber, entendendo, porém, que seu objeto de estudo está sempre em transformação e que, portanto, o conceito oferecido ao termo “dominar plenamente” significa “saber gerir o aprendizado levando em conta todos os possíveis”. Os docentes de língua estrangeira moderna devem, como forma de contínua preparação, mas também como meio de manter conhecimentos prévios adquiridos ao longo de sua formação, continuar em contato com a língua que ensina. Alguns anos lecionando e o professor pode acabar perdendo sua fluência por viver em sala de aula experiências estanques de fala. Alguns anos em sala e o professor pode perder o hábito de ler textos mais elaborados por oferecer textos curtos adequados ao nível de seus alunos. Alguns anos em sala e o professor pode desabituar o ouvido, já que raramente consegue ouvir expressões inteiras dos alunos e, quase nunca, um diálogo. Nenhum professor de LE de escolas públicas com, no mínimo, 30 alunos em sala diria que esse é um dado exagerado e distante da realidade.
Como resultado, caso o professor se distancie realmente de seu objeto de estudo, utilizando-o apenas como disciplina de ensino e instrumento de procedimento pedagógico, pode ocorrer uma descaracterização daquilo que seria uma identidade profissional – o de ser um falante da língua que ensina. Ora, o professor de Educação Física pode continuar se envolvendo nas atividades esportivas, o professor de matemática vivendo cálculos, o de Língua Portuguesa utilizando a língua no dia a dia. Mas o que falar do professor de LE? Onde ele pode ser convidado a continuar exercitando seu conhecimento linguístico de forma sistemática? Vivendo uma experiência de imersão e não de uma simples contemplação dos fenômenos linguísticos oriundos de filmes e vitrines de lojas.
Isso posto, consideramos algumas possibilidades para que professores e demais profissionais de linguagem pudessem se valer de momentos para exercitarem suas habilidades linguísticas. Não se trata apenas de atividades formativas com ênfase em procedimento metodológico ou concebimento de sequência didática, mas da experimentação livre do professor como indivíduo em uma atividade que pressupõe suas necessidades pessoais de aprimoramento como falante de LE.
Uma maneira extremamente relevante de continuar em contato com a língua é envolver-se em atividades de tradução e interpretação. O caráter profissional dessa atividade, gerando inclusive renda suplementar, desenvolve o vocabulário em diversas esferas de linguagem e, geralmente, provoca verdadeira evolução no grau de confiabilidade em seu trabalho também como docente. Muitas vezes, essa atividade acaba por se tornar a maior fonte de renda e não mais o ensino. Não queremos estimular o abandono às atividades docentes, certamente, mas o professor é um excelente material humano para desenvolver tal função, visto que mantém bons índices de organização e costuma respeitar prazos.
A tradução também representa um crescimento do repertório do professor, tornando-o mais preparado a abordar sobre diferentes temas, já que o tradutor investiga muito e consegue tecer diversas inferências a partir de textos dos mais diferentes cunhos. Um professor que detém maior informação sobre o mundo, torna-se também mais seguro quanto ao que faz e acelera seu processo de ensino.
Devemos lembrar que a educação é um jeito de traduzir o mundo, fazendo com que os fenômenos de saída ainda não compreendidos ou assimilados por uma determinada parcela de indivíduos sejam transportados para uma experiência de chegada, transformando fenômenos turvos e confusos em experiências de iluminação intelectual e desenvolvimento pessoal. Também é digno de nota o fato de que traduzir pode ser muito desafiante, já que a atividade não pressupõe apenas uma decodificação de palavras, mas uma manipulação adequada de sentidos para que a informação seja transmitida fielmente.
Assim, o ato tradutório pode representar um avanço dos índices de educação, não como instrumento pedagógico, mas como garantia de que o professor se sinta mais confiante e em condições de “dominar plenamente” a língua que ensina.
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